quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

A Moça no Metrô

Estava eu semana passada, voltando para casa, no metrô do Rio de Janeiro, em mais um dia normal, como outro qualquer. Eu permanecia sentado em uma cadeira, lendo minha revista normalmente, como sempre costumo fazer, quando, na estação Botafogo, entra uma moça no vagão. A mulher, de aparência humilde, passaria despercebida em meio aos outros passageiros, já que, em um único dia, milhares de pessoas iguais a ela se utilizam do mesmo transporte público, entretanto, não foi isso que aconteceu.


Quando a composição começou a andar, o silêncio que tomava conta do carro deu lugar a uma voz segura e decidida. A cidadã, então, começara a narrar uma parte da história de sua vida. Ela contou que havia chegado de Brasília, há cerca de três semanas, com seus dois filhos, um com dois anos e outro com oito.

- Eu pensava que iria conseguir rapidamente um emprego, mas até agora nada – desabafou a mulher.

Ela acrescentou, ainda, que sua criança mais nova era alérgica a lactose e, por isso, só podia tomar leite de soja, cuja lata custava cerca de 15 reais. O valor já é uma verdadeira exorbitância para qualquer trabalhador, imaginem, então, para uma dona-de-casa desempregada.

Após expor o seu caso, que era atentamente acompanhado por todos ali presentes, a moça falou:

- Já deixei meu currículo em várias empresas, porém, não posso ficar esperando que eles me telefonem. Tenho dois meninos para alimentar e não consigo chegar em casa de mãos abanando. Por favor, se alguém tiver qualquer serviço para eu fazer é só falar que eu vou agora com você! Pode ser uma faxina, uma roupa pra passar, um banheiro pra lavar. É só falar que eu vou agora!

Apesar de não ter pedido dinheiro, mas sim uma forma digna de ganhá-lo, um senhor logo puxou uma nota de 10 reais e deu para a mulher. Em seguida, diversos outros passageiros, comovidos com o relato, ofereceram cartões, com indicações de trabalho, dinheiro, e até pequenos lanches.

- Leva para o seu filho – falou uma senhora, entregando-lhe alguns pães de queijo.

A história dessa cidadã, que migrou da Região Centro-Oeste para uma grande metrópole, em busca de melhores condições de vida, é algo cada vez mais comum no país em que vivemos. Centenas de pessoas deixam suas origens, em diversas regiões do Brasil, em direção às regiões Sul e Sudeste, com o bolso vazio e o coração cheio de esperança.

A diferença no caso dessa desesperada dona-de-casa com outras pessoas, que também se encontram em dificuldades financeiras, está na atitude, fazendo-nos refletir. Ao mesmo tempo em que o governo se preocupa em oferecer auxílios, como o "Bolsa Família", ele se esquece completamente que o povo precisa mesmo é de oportunidades, de emprego, onde possa receber dignamente por seu próprio esforço.

Hoje, essa moça voltou para casa com alguns trocados a mais, contudo, o leite de amanhã de seus pequenos filhos, ainda é uma incerteza.


"A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana."
( Franz Kafka )

4 comentários:

  1. Eu adorei os textos.
    E, como a idéia é falar o que der na telha, penso que você não se deve incomodar com palavras rebuscadas ou português perfeito. É só extravasar e deixar acontecer. Parabéns! Vai escrever um livro-diário rapidinho. Bjs, Gleise

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  2. "Vives de tal forma que deixes pegadas luminosas no caminho percorrido como estrelas apontando o rumo da felicidade e não deixes ninguém afastar-se de ti sem que leve um traço de bondade ou um sinal de paz da tua vida"
    Devemos sempre pensar positivamente em tudo que fazemos e desejamos. Pensando que já conquistamos, os sonhos sempre se realizam...

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  3. Mto bom Ivanzinho....
    Vai fundo..

    Bjuss e parabéns

    Lu Pereira

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  4. Situação difícil essa em nosso país!!Essa não é a 1° e nem a última a estar em tal situação. Nossos governantes cada vez mais ricos e viajados, enquanto que os cidadão cada vez mais miseráveis. Não temos educação, saúde e muito menos emprego!!!
    Mas não adianta falarmos ou comentarmos sem atitudes....
    Bjusss

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