sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Um pão doce, por favor

Engraçado como conhecemos pessoas de bom coração em lugares que não imaginamos...


Quase todo dia compro pão na mesma padaria, até porque, ela é próxima de casa e já sei mais ou menos, o horário do famoso pão quente.

Quando não estou com meus filhos e vou sozinho, fico observando à minha volta, tentando reparar algo novo num mesmo lugar que frequento... Certa vez, resolvi reparar no "humor" dos funcionários da padaria e sempre que aparece um funcionário próximo a mim, dou um cordial "olá" e faço meu pedido, dentre os funcionários, reparei que alguns estão sempre contentes, outros, as vezes estão e outras vezes não e um ou outro, sempre estão "sérios" ou descontentes.Ainda não sei distinguir pessoas sérias (sisudas) de pessoas momentaneamente aborrecidas... Mas estou tentando aprender a ler os olhos das pessoas. Eles sempre dizem tudo o que precisamos saber...

Separando esses 3 grupos, resolvi me ater nos funcionários que estão sempre contentes. Não discriminando os outros, fiquei curioso em saber o que os motivam tanto. Entre tantas idas e vindas à padaria, acabei fazendo "amizade" com uma senhora do caixa e um balconista. A do caixa é difícil de conversar, pois ela não pode dar muita atenção, até porque, lida com dinheiro. O Balconista, acaba puxando conversa e é mais fácil de conversar, mesmo que rápido.

O Balconista, Zé*, sempre me ajuda na escolha do pão doce. Sempre que vou à padaria, tenho que comprar um pãozinho doce. Certa vez ele brincou comigo, dizendo que isso engorda mais do que a cerveja, ainda mais nessa hora (22h00). Então expliquei que não era para mim, e sim, para minha mãe que ficou com vontade. A velhinha é viciada em pão doce! :-) Mas como ele ajuda ? Ele diz quais são os "melhores do dia", os mais frescos, etc. Aí pensei, que maneiro!Ao invés de ele me empurrar os mais "passados", ele é honesto em dizer os que ainda estão bons.


- Mas hoje vc veio tarde, seu Ivan, falou ele. - Que nada, disse eu, completando: Hoje cheguei cedo em casa, por volta das 19hs. Quando dá umas 22hs, vejo minha mãe rodeando a cozinha, como se procurasse algo. Dei pausa no filme, me levantei e fui ver o que era. Perguntei o que ela queria, mas ela disse um simples "nada". Pensei o que poderia ser, então, coloquei uma roupa e vim aqui, pois acho que minha mãe quer um pão doce e ficou sem graça de me pedir, pois já me viu deitado. O balconista ficou parado, me ouvindo atentamente, ficou em silêncio por algum tempo, quando me indagou: - Porque você não leva esse para a sua mãe? peguei os trocados no meu bolso, mas fui praticamente sem dinheiro para a padaria, deixei até minha carteira em casa. Contei as pratas e disse: - Não dá, vou levar o de sempre mesmo, praticamente nem contei direito as pratinhas. - Que isso! Disse ele, ela vai adorar esse e além do mais, você veio aqui depois de estar descansando? Não, leve esse! Eu falo com a moça do caixa e você paga na próxima vez que vier aqui. Ou melhor: Toma! pegue essa moeda de R$ 0,50 centavos para completar e depois vc me paga. Tentei recusar mas foi em vão...

Minha mãe? Nossa ! AMOU o pão e ADOROU por eu ter "adivinhado" o que ela queria, mas não tinha coragem de pedir, pois sabia que eu iria...


Dois dias depois, volto à padaria, para pagar o "empréstimo". Era tarde novamente, havia tomado uma cerveja com meus amigos. Chegando na padaria, estavam uns poucos clientes saindo. Um dos mal-humorados funcionários jogava água, lavando o chão, enquanto uma outra usava o rodo para conduzir a água com sabão para fora. Olho pro balcão e lá está ele, cantarolando, mesmo tendo ficado mais de 10hs trabalhando e ainda chega um "chato" como eu, quase na hora de fechar para comprar pão.



Em casa, refletindo, acho que a motivação vem do prazer de poder ajudar alguém, mesmo com limitações... Veja que ele me ajudou com R$ 0,50. Será que fez falta para ele? Quando eu ganhava salário mínimo, qualquer pratinha me fazia falta... Não deve ser muito diferente de hoje.
Na verdade, ajudou mais a minha mãe mesmo ele sem a conhecer... Se pensarmos friamente, o que ele ganha com isso? O patrão não pode ver que ele faz isso, não ganha comissão por venda de pães e ele age como se fosse o dono (ou o dono deveria agir como ele ?). Então? alguém me explica? Boa índole? Honestidade? Respeito e preocupação ao próximo? Consciência sempre tranquila?

Atos como esse somente demonstram que não precisamos fazer coisas milaborantes para ajudar alguém... Quase sempre, os atos mais simples, são os que mais surtem efeitos... Algo que não tem preço e nem a Credicard paga...

"O óbvio é aquilo que nunca é visto até que alguém o manifeste com simplicidade."
--Kahlil Gibran


Beijos, Abraços e fiquem com Deus.
Ivan

* Nome foi trocado

6 comentários:

  1. Caraca, ficou maneiro !!! mais alguns desses e poderia virar um roteiro para um anima mundi da vida..
    Abçs.

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  2. Grande Ivan!
    Bem vindo ao mundo da literatura Blogueira (Blog + Guerreiro...rs...), a vida de publicar textos em blog é dura meu veio, mas da vazão ao nosso espírito criativo. Excelente crônica do cotidiano, mas uma dica: Localize mais ela espacialmente, onde fica a padaria, qual o caminho que vc faz até ela, essas coisas. Fica a sugestão para a proxima crônica.
    Forte Aplexo!
    Marcão

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  3. Ivan,
    Como eu acabei de falar, sou fã dos seus textos. Sempre prendem a minha atenção e fazem com que eu leia tudinho só pra saber qual foi o desfecho da história...
    Parabéns por escrever textos bons em uma época em que encontramos verdadeiros absurdos escritos por aí.
    Tomara que um dia você junte tudo e publique um livro com seus contos. Serei uma das primeiras da fila na tarde de autógrafos...
    Beijão

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  4. Bem-vindo ao mundo dos blogueiros!!!

    Beijos. ;-)

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  5. Ivanzinho,
    Eu adoro tudo q vc escreve.
    Eu ainda vou em sua noite de autografos.
    Beijos
    Cris

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  6. Olá, Ivan.

    Vindo dalí;
    Acolá e cai aqui! :O

    Tá, comecei ler...

    E por falar em padaria ache-o leve, doce, amoroso, remete bons valores, lembra família, acolhimento, ternura...e não é pão fresco,não...é o seu blog :)

    Vida longa a ele e
    saúde e juventude em seus versos, sempre!
    Walcléa.

    P.S.: minha tarde chuvosa ficou até simpática depois de ti ;)

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